Saneamento básico é para todos?
No final de novembro, mais de 100 especialistas brasileiros e de países como Espanha, França, Estados Unidos, África do Sul e Chile, entre outros, estiveram no Brasil para abordar os temas da ODS 6 da ONU. Cálculos oficiais indicam que a falta de saneamento básico faz o país perder 56 bilhões por ano nas áreas da Saúde e outras. Com a grande desigualdade social que sofre o Brasil, a água chega com mais dificuldade a regiões mais carentes como favelas, comunidade indígenas e regiões afastadas dos grandes centros do país.
O ambientalista e membro-fundador da organização Baia Viva, Sérgio Ricardo, em entrevista à Sputnik Brasil, declarou que a situação precária que o Brasil vive em relação ao saneamento básico está relacionado com o processo de privatização dos recursos públicos, dificultando o acesso à água em regiões mais carentes.
“Temos uma situação muito precária aqui no Brasil e em vários países da América Latina e da África em relação à ausência do saneamento básico. Hoje há um conflito muito grande de disputa por esse recurso essencial à vida e há toda uma estratégia das corporações, do sistema financeiro, tentando mercantilizar esse que é um bem comum, bem público, de interesse coletivo”, afirmou.
“Nós não podemos tratar a água como uma commoditie, como um bem mercantil, e esse é um processo que está se dando muito intenso em vários países. No caso aqui do Brasil, o atual governo federal tem planos de privatização das 14 companhias de saneamento. O estado do Rio de Janeiro está sendo um laboratório dessa mercantilização da água”, observou o especialista.
De acordo com Sérgio Ricardo, milhões de pessoas de renda mais baixa só têm acesso à água potável de boa qualidade porque ela é fornecida empresas públicas, citando o caso da CEDAE, no Rio de Janeiro. “Caso ela venha a ser privatizada, os mais pobres vão passar por um processo de uma maior dificuldade de acesso ao abastecimento público”, argumentou.
“O Brasil tem sido objeto de um laboratório do que nós podemos chamar de um neoliberalismo tardio. Nos anos 90 houve um processo muito intenso de privatização de várias estatais, empresas importantes do setor elétrico, que são fundamentais para a qualidade de vida das pessoas, e agora a commoditie da vez é a água. E muitos eventos tem sido realizados no país tentando criar na opinião pública uma ideia de que solução privada vai solucionar os problemas de déficit”, completou o ambientalista.
Matéria originalmente publicada pela Sputnik Brasil