renato conde 2

Privatização da DESO – vale a pena?

renato conde 2O sindicato que representa os funcionários da DESO “sabe das coisas” e já espalhou vários ”outdoors” pela cidade dizendo Não à Privatização. Sabe que há movimentos efetivos de gestão nesse sentido.

Seguindo exemplos de outras empresas coirmãs, o sindicato sabe que a DESO já iniciou procedimentos para sua privatização e, nos últimos anos, os governos construíram um bom caminho para essa efetivação com a duplicação da adutora do São Francisco e a regularização – através de barragem, do rio Poxim.

Essas duas obras, associadas a um efetivo controle de perdas, especialmente, na distribuição, permitirão abastecer a região metropolitana de Aracaju até o ano de 2030. A “fartura de água” sem que se necessite investimentos é um grande atrativo para o interesse de empresas privadas.

Ao contrário da empresa pública que objetiva o benefício social, a empresa privada visa em primeiro lugar o lucro financeiro e os nichos econômicos não explorados pelas gestões que administram a DESO, a exemplo de: permanente atualização do cadastro de consumidores, mudanças no sistema tarifário e o rígido controle das contas a receber, constituem-se alavancas que poderão dobrar o faturamento. Por outro lado, há grandes volumes de investimento sendo realizados pelo governo federal na coleta de esgotos, prevendo-se uma cobertura de 80% da população, e, esse novo oásis de faturamento, torna-se a “menina dos olhos’ dessas empresas.

O maior entrave para a privatização está nos recursos humanos, cuja renovação do quadro somente se iniciou nos     últimos dez anos, e, hoje, ainda, a DESO possui 50% do seu quadro no regime de turno corrido, ou seja, com horário de trabalho das 7:00 à 13: horas, e que  representam 65% da folha, cujos salários foram conquistados ao longo dos anos, seja pelo Plano de Carreira, por incorporações ou outras conquistas aceitas em Acordo Coletivo.  

Por outro lado, por não ter havido, durante muitos anos, o preenchimento das vagas do quadro e a necessidade da evolução do número de empregados em função da ampliação operacional, fizeram grassar as horas extras sacrificando o caixa da empresa,

Para cobrir essa falha foram contratados cerca de 400 novos funcionários nos últimos dois anos, que, ainda, não sabem o que fazer, não têm treinamento e estão em sua maioria “batendo cabeça”, como se diz na gíria popular. A empresa, agora, está “inchada” e, nessa transição, criou-se um viés perigoso, pois, as horas extras continuam sacrificando o caixa da empresa, tudo como “d´antes”.

Não se fala em privatização total, mas, em PPP – Parceria Pública Privada, em nichos lucrativos avistados pelas empresas interessadas. À empresa privada não interessa o “osso”, que, certamente, ficará com o governo – a DESO opera nas sedes de 72 municípios e em mais de 600 povoados. Cria-se um paradoxo: com a privatização, a DESO terá que demitir para que a “parceira” possa compor seu próprio quadro de pessoal.

As decisões dos governantes, e aí, cada qual com sua parcela, pelas obras que permitem a “fartura de água” e pela renovação do quadro, são corretas. Entretanto, há um  problema de gestão, falta treinamento em massa, fato que a DESO terá muita dificuldade em realizar, pois, não dispõe de estrutura  nem de recursos financeiros.

Essa transição, sem foco no treinamento, alijou técnicos experientes que muito poderiam contribuir, visto que não há escola prática para as tarefas do dia a dia na área de saneamento e o aprendizado é sempre passado pelos mais experientes. O jargão que “os mais velhos não querem nada” não é verdade, todos poderiam contribuir se estivessem motivados. Mas, o que se observa são gestões descompromissadas, incapazes de enfrentar os problemas da empresa e de planejar o seu futuro.

Sob outra ótica, os novos funcionários, que constituem 50% da força de trabalho e representam somente 35% da folha, em nada mudarão o panorama, pois, situando-se no mesmo Plano de Carreira, dos “velhos”, em breve, conquistarão os mesmos benefícios, e, pior, representarão 100% da folha.

Ledo engano de quem, na tentativa de reduzir a folha com a introdução desses novos funcionários, melhorará a situação financeira caótica da DESO.

Digo Não à Privatização e Sim a uma Gestão Eficiente, como a de uma empresa privada, com visão no lucro, reduzindo despesas e aumentando as receitas sem perder o foco do benefício social. Para tal, é preciso ter a sabedoria, apoio que elimine a ingerência, competência na tomada de decisões. Perguntamos: os “novos” reúnem conhecimento para essa transformação?

Artigo publicado, originalmente, no Jornal da Cidade, do domingo (6) e segunda-feira (7) de dezembro.

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