Os serviços terceirizados da DESO batem recorde de reclamação
Por Ricardo Marques*
A um jornal de circulação nacional a equipe econômica do novo governo de Sergipe anunciou que fará a concessão de serviços de saneamento, com leilão até o final do ano. O contrato deve ser válido por 35 anos e investimentos são estimados em R$ 7 bilhões; modelo deve ser parecido aos realizados no Rio de Janeiro e em Alagoas.
Após a Assembleia Legislativa de Sergipe aprovar a atualização da lei parceria-público privada (PPP) e a criação de parceria-pública e estratégias (PPE), a concessão da DESO não precisa passar pela Alese, basta um decreto que tudo está resolvido. Simples como envio de um Pix.
Tenho estudado o saneamento nas capitais brasileiras e percebo que, diferentemente de outras companhias Brasil afora, a DESO é uma empresa pública que tem as contas equilibradas e dá lucro. Aliás, pelo que sei é o governo do estado que deve aproximadamente R$ 70 milhões à companhia.
E por que tanta reclamação? Como vereador de Aracaju estou sempre nas ruas, converso com moradores e vejo que a revolta não é contra a companhia, mas contra quem faz o serviço em nome da DESO. E por que isso acontece?
Estamos no quinto mês do mandato do governador Fábio Mitidieri e ele nesse tempo já tem um diagnóstico fechado sobre a DESO? E é um é caso irreversível. Será? Acredito que antes é preciso conhecer a Companhia de Saneamento por dentro e por fora, e também saber quem faz os principais serviços que a população reclama.
Quando o governador Fábio Mitidieri diz que a população está “por aqui” com os serviços da DESO e que a alternativa é passar o controle da distribuição de água no estado de Sergipe para iniciativa privada, ele esquece de um detalhe: há um bom tempo que o setor privado já detém o controle dos serviços da DESO.
Vejamos:
Os serviços de ligação de água, religação, corte, fiscalização, vazamento e reposição de pavimento, são executados pela empresa privada, a CAMEL Empreendimentos e Construções Ltda;
A CAMEL também faz a maioria dos serviços de rede de esgoto, recentemente também chegou a SERCOL.
A leitura de hidrômetro e entrega de fatura e o atendimento Call Center são feitas pela empresa privada MG Setel (Minas Gerais);
O atendimento ao público dos SEACs é feito pela empresa privada TELEQUIPE;
O serviço de limpeza é feito pela empresa privada MASTERSERV;
O serviço de vigilância é feito pela empresa privada FRANCA;
O serviço de transporte de pequeno porte é feito pela empresa privada LOC Empreendimentos;
Transporte de água via caminhão-pipa é feito pelas empresas privadas Ascendido Prata EIRELI e EM Engenharia e Logística;
O serviço de informática é feito pela empresa privada W Info;
A substituição de hidrômetro é feita pela empresa privada Ágil;
Os serviços em tubulação de ferro e carcaça de bombas são feitos pela SEMIL.
Eu questiono: a equipe econômica do governo de Sergipe está ciente de que praticamente todos os serviços da DESO são terceirizados e são esses os campeões de reclamações?
Diante do exposto penso que antes de qualquer decisão mais drástica seria importante procurar saber qual é o calcanhar de Aquiles da DESO; conhecer a dor de quem utiliza os serviços e quem está provocando essa dor diante de uma prestação de serviços com inúmeras reclamações.
Seria importante também descobrir se o problema está na estrutura da Companhia, na falha da gestão, ou no constante uso político da Companhia. E não deixar de questionar: por que a prestação de serviço da DESO é tão ruim se quase tudo já é feito por empresas terceirizadas?
Não adianta reclamar do filme se já assistimos o trailer.
*Ricardo Marques é jornalista, vereador por Aracaju e membro titular da Comissão de Obras e Transporte da CMA. O presente artigo foi publicado originalmente no Jornal do Dia.