Água cara em dose dupla: Como a Iguá penaliza quem economiza e a Agrese fecha os olhos

Por Luis Moura*

A chegada da IGUÁ Saneamento ao controle da distribuição de água em Sergipe começou de forma amarga para os consumidores. Em apenas três meses de gestão, a empresa aplicou um reajuste de quase 8% nas tarifas, sinalizando que a nova administração viria mais pesada para o bolso das famílias sergipanas. Mas o que parecia ser apenas um aumento pontual revelou-se parte de uma estratégia ainda mais onerosa e injusta.

A empresa agora propõe mudar a forma de cálculo do rateio de água em condomínios com medição individualizada, alterando uma sistemática que funcionava de maneira equilibrada. Atualmente, quando um morador consome menos de dez metros cúbicos, mas paga pela tarifa mínima, o valor excedente é incorporado pelo condomínio para cobrir o consumo das áreas comuns, como jardins, limpeza e piscina. É um mecanismo natural de compensação: quem consome menos ajuda, de forma indireta, a reduzir a conta coletiva.

Para entender a gravidade da mudança, imagine dois condomínios idênticos, com 192 apartamentos e o mesmo consumo total de água. No primeiro, com medição individualizada, 40 moradores consomem apenas 5 metros cúbicos cada, mas pagam como se usassem 10. O excedente de 200 metros cúbicos é aproveitado para as áreas comuns, evitando cobranças extras no rateio.

No segundo condomínio, sem medição individualizada, a conta total é dividida igualmente entre todos. Mesmo os 40 moradores que consomem pouco pagam o mesmo valor que os demais. Não há diferenciação pelo uso individual, mas o custo global é distribuído de forma proporcional ao consumo coletivo.

A nova regra da IGUÁ quebra esse equilíbrio. No condomínio com medição individualizada, o morador econômico continuará pagando pelos 10 metros cúbicos, mesmo consumindo apenas 5. Porém, no rateio das áreas comuns, ele também pagará de novo por parte desse consumo — configurando uma dupla cobrança.

O resultado é perverso: o cidadão que se esforça para economizar, adotando práticas conscientes como banhos curtos e reaproveitamento de água, será penalizado duas vezes. Primeiro, pela tarifa mínima. Depois, pelo rateio adicional que antes já era coberto pelo excedente de sua própria conta.

A distorção fica mais evidente quando se compara o custo total dos dois condomínios. Apesar de consumirem a mesma quantidade de água, aquele com medição individualizada passará a pagar mais que o sem medição — não por aumento de consumo, mas por um mecanismo artificial de arrecadação criado pela IGUÁ. Não há justificativa técnica, econômica ou social para isso, apenas o interesse da concessionária em ampliar seu faturamento.

Ainda mais grave é a postura da AGRESE, a agência reguladora que deveria proteger o consumidor. Em vez de questionar a medida, o órgão já havia chancelado o reajuste de 8% no início da gestão e agora permanece em silêncio diante dessa nova regra abusiva. O que deveria ser um escudo protetor dos direitos da população virou um facilitador para os interesses privados da concessionária.

Essa situação vai muito além de uma simples disputa sobre contas de água. Ela expõe os riscos da privatização de serviços essenciais quando não há fiscalização firme e independente. A água, bem vital e insubstituível, não pode ser tratada como mero produto para gerar lucro a qualquer custo.

As famílias sergipanas estão sendo punidas por economizar, e o recado que fica é perigoso: consumir menos não compensa. É urgente que a sociedade pressione a IGUÁ e a AGRESE para reverem essa decisão e adotarem uma postura ética e transparente, garantindo que a economia consciente seja valorizada, e não transformada em prejuízo.

*Luis Moura é ex-supervisor técnico do Dieese em Sergipe

 

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