Jornada de trabalho: para quê tantas horas extras?
Por Sérgio Passos
Desde o início das sociedades, quando o homem começou a produzir e armazenar, as relações de trabalho passaram a gerar conflitos, os quais o movimento sindical combativo define como luta de classes. Na sociedade escravista os vencidos eram submetidos à vontade dos vencedores, e para comer tinham que trabalhar de graça. No Feudalismo o trabalhador tinha direito à terra que pertencia a um senhor, mas tinha que pagar um percentual pela utilização da terra e, durante a semana, trabalhar três dias parar o senhor feudal.
Já no Capitalismo e com a Revolução Industrial na Inglaterra, no final do século XVIII, depois que os camponeses foram impulsos de suas terras, se viram forçados a trabalhar nas indústrias, senão seriam presos por vadiagem. Naquela época os trabalhadores não eram mais escravos e nem servos, mas a sua jornada de trabalho chegava até dezesseis horas diárias.
Foi uma grande conquista quando o movimento operário, depois de grandes mobilizações e greves, conseguiu a redução da jornada de trabalho para dez horas e folga aos domingos.
Estamos fazendo esse relato histórico para mostrar que as relações entre empregado e empregador sempre tiveram conflitos e sempre terá, pois os interesses dos mesmos são inconciliáveis – quanto mais aumenta a jornada de trabalho, mais aumenta o lucro do patrão, pois só o trabalho humano produz riqueza; mesmo as máquinas, computadores, o robô, para serem fabricados, exige o trabalho humano.
Pulando para a nossa realidade, na DESO, no ano de 1988, o sindicato, junto com os trabalhadores, conseguiu naquele ano uma das maiores conquistas da categoria, a redução da jornada de trabalho de oito horas para seis horas (alguns alegam que foi dádiva do governo de plantão da época). Foi uma campanha onde houve uma mobilização enorme, com faixas, cartazes, adesivos, etc.Foi criado uma comissão e essa comissão fez um estudo provando que o turno corrido era viável também para a DESO.
O estudo apontava a jornada de seis horas e não o turno corrido – por exemplo, um distrito de operação tinha seis equipes, cada equipe tinha sua viatura; três equipes começariam a trabalhar de sete as treze e as outras três das doze às dezoito horas, mas só que isso não foi feito e todas as equipes começaram a trabalhar de sete às treze.
Por não ter sido seguido o planejamento da comissão e por necessidade de serviço, começou na DESO o aumento de horas extras. É bom lembrar que em 1988, a companhia tinha mil trezentos e quatorze trabalhadores e hoje, com o crescimento da população, grande número de ligações de água e o aumento do volume de água tratada, a DESO tem em torno de mil duzentos e noventa trabalhadores, e esse número se reduz a cada dia por falta de incentivos por parte da empresa para os funcionários; muitos estão se aposentando e outros em busca de empregos mais atrativos.
O que se constata é que a DESO não se planejou para o crescimento da empresa tanto no quadro de pessoal como no quadro operacional. Foi feito um estudo recente que detectou que a Regional do Sertão tem cento e trinta e dois empregados, e a carência de pessoal hoje nessa regional é de duzentos e sessenta e quatro trabalhadores. Essa carência existe em todas as unidades de trabalho da DESO. Por isso da necessidade de se fazer uma quantidade enorme de horas extras, sacrificando os trabalhadores.
Lembramos aos companheiros que sempre foi bandeira de luta dos trabalhadores a redução da jornada de trabalho, e o SINDISAN também defende esta bandeira. Mas se há necessidade de se fazer hora extra, o Sindicato defende o pagamento da mesma. Somos contra o limite de horas extra a receber; se fez, o trabalhador tem que ganhar.
Nós também já denunciamos a fábrica de horas extras, mas aí é com a DESO, pois existem diretores, gerentes e chefes para fiscalizar. Espera-se providências por parte dos diretores e gerentes, pois são eles que assinam as horas apontadas.
Lembramos também aos companheiros que o aumento da jornada de trabalho aparentemente não causa nenhuma grande mazela e tem companheiro que sempre solicita a chefia fazer algumas horinhas para ajudá-lo, e muitos já fizeram da hora extra, salário.
São cada vez mais freqüentes casos de doenças na empresa ocasionados pela excessiva jornada de trabalho, tais como problemas de coluna, perda auditiva, diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, problemas psicológicos e até depressão. Com o avanço tecnológico, não há necessidade de se trabalhar mais que seis horas diárias.
Como no sistema capitalista o lucro não tem limite e a competição entre as empresas visa o aumento do lucro, o trabalhador é tratado como mercadoria descartável. Sendo assim, fica difícil a redução da jornada de trabalho. Só com muita mobilização das centrais sindicais e dos trabalhadores ou com o fim desse sistema, que sobrevive da exploração do trabalho assalariado.